quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sapiência: a vocação humana.

A preocupação com a utilização de um método para produzir novos conhecimentos é antiga. O matemático e filósofo René Descartes, por exemplo, há mais de três séculos, escrevia a esse respeito:

Os métodos são regras precisas e fáceis, a partir da observação exata das quais se terá certeza de nunca tomar um erro por uma verdade, e, sem aí desperdiçar inutilmente as forças de sua mente, mas ampliando seu saber por meio de um contínuo progresso, chegar ao conhecimento verdadeiro de tudo do que se é capaz.

Método
(meta= para + hodos=caminho) "caminho para", "prosseguimento", "pesquisa".


Para isso, o método indica regras, propõe um procedimento que orienta a pesquisa e auxilia a realizá-la com eficácia.
Metodologia
Estudo dos princípios e dos métodos de pesquisa.


Para sobreviver e facilitar suas existência, o ser humano confrontou-se permanentemente com a necessidade de dispor do saber, inclusive de construi-lo por si só. Ele o fez de diversas maneiras antes de chegar ao que hoje é julgado como o mais eficaz: a pesquisa científica. Os antigos meios de conhecer, entretanto, não desapareceram e ainda coexistem com o método científico.
Nas ciências humanas modernas, o método científico pode ser apresentado das seguintes maneiras:
SABER ESPONTÂNEO – o homem pré-histórico elaborava seu saber a partir da experiência e de suas observações pessoais. Ex.: produzir o fogo a partir do atrito de duas pedras e folhas secas.
- Intuição
Percepção imediata sem necessidade de intervenção do raciocínio (Aurélio). É, por excelência, o tipo do saber espontâneo.

Em nossa linguagem hoje, chamam-se tais explicações espontâneas de "senso comum", às vezes de "simples bom-senso".  Porém, o senso comum pode ser enganador e equivocado, como no exemplo visto nos seguintes ditos populares:
Diga-me com quem andas e te direi quem és.
Os opostos se atraem
Tal pai, tal filho
- Tradição
Esses saberes parecem não se basearem em qualquer dado de experiência racionalizada. Assim, transmite-se, em uma sociedade como a nossa, em crendices como:
13 é o número do azar
Não traz sorte passar por debaixo de escada
- Autoridade
Com frequência, sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam da transmissão da tradição. Desse modo, a Igreja Católica decidiu, muito cedo, regras para o casamento (uniões proibidas entre primos, proclamas, declarações de impedimentos conhecidos) tendo como objetivo prevenir a uniões incestuosas e inclusive consanguíneas.
Sua força deve-se ao fato de que nem todos podem construir um saber espontâneo sobretudo o que seria útil conhecer. Daí a comodidade, para conduzir sua vida, de um repertório de saber pronto. Daí também, em contrapartida, o peso que possuem as autoridades (padres, médicos, bruxos, dirigentes, pais, professores, etc.) que o transmitem e as instituições (igrejas, escolas, etc.) que servem de quadro à transmissão desses saberes.

SABER RACIONAL – muito cedo o se humano sentiu a fragilidade do saber fundamentado na intuição, no senso comum ou na tradição; teve a necessidade de recorrer a um conhecimento mais metodicamente elaborado e, portanto, mais confiável. Suas concepções forma obtidas a partir do positivismo, cujas principais características são:
- Empirismo
O conhecimento positivo parte da realidade como os sentidos a percebem e ajusta-se à realidade. Qualquer conhecimento, tendo uma origem diferente da experiência da realidade – crenças, valores, por exemplo - parece suspeito, assim como qualquer explicação que resulte de idéias inatas.
- Objetividade
O conhecimento positivo deve respeitar integralmente o objeto do qual trata o estudo; cada um deve reconhece-lo tal como é. O sujeito conhecedor (o pesquisador) não deve influenciar esse objeto de modo algum; deve intervir o menos possível e dotar-se de procedimentos que eliminem ou reduzam, ao mínimo, os efeitos não controlados dessas intervenções.
- Experimentação
O conhecimento positivo repousa na experimentação. A observação de um fenômeno leva o pesquisador a supor uma tal causa ou consequência: é a hipótese. Somente o teste dos fatos, a experimentação, pode demonstrar sua precisão.
- Validade
A experimentação é rigorosamente controlada para afastar os elementos que poderiam perturbá-la, e seus resultados, graças às ciências matemáticas, são mensurados com precisão. A ciência positiva é, portanto, quantitativa. Isso permite, que se chegue às mesmas medidas de reproduzindo-se a experiência nas mesmas condições, concluir a validade dos resultados e generalizá-los.
- Lei e previsão
Sobre o modelo do saber constituído no domínio físico, supõe-se que se podem igualmente estabelecer, no domínio do ser humano, as leis que o determinam. Essas leis, estima-se, estão inscritas na natureza; portanto, os seres humanos estão, inevitavelmente, submetidos. Nesse sentido, o conhecimento positivo é determinista. O conhecimento dessas leis permitiria prever os comportamentos sociais e geri-los cientificamente.


Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor

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