O que é ser pai?
Seria apenas a contribuição genética com um lote de vinte e três
cromossomos?
Pouco provável.
Mesmo que o exame do material genético comprove seu vínculo
hereditário, isso também é insuficiente.
A paternidade vai muito mais além dos alelos comuns e muito aquém
daquilo que o descendente merece ter.
O legítimo pai é aquele que é reconhecido como tal, pois
assume sua condição de responsável em ser a paralaxe de caráter de seu
descendente. Uma paternidade baseada apenas em fatores bioquímicos não é
privilégio humano. Qualquer ser vivo é capaz de tal façanha.
Porém, a condição humana nos torna muito mais comprometida
por nossos atos.
Perceber que suas lições deram fruto, mesmo que o
reconhecimento não seja diretamente proporcional, já é uma comprovação de que o
êxito foi atingido. A partir de certo ponto, o ato de seu tutelado passa a ser
de total responsabilidade do mesmo.
Mas existe a paternidade tardia e adotiva. Responder por
alguém que traz uma bagagem cultural e genética distinta da sua é um verdadeiro
exercício de tolerância, amor e de ego. Talvez essa seja a grande prova da
paternidade. Imprimir no neófito seus valores, respeito e a conivência que os
torna semelhantes, é uma árdua tarefa. Os resultados só o tempo vai poder
demonstrar. Gratidão ou insubordinação ficam a cargo da própria natureza
humana.
Não se trata de uma consideração simplória e fatalista.
Trata-se de um discernimento que os vínculos entre as pessoas vão muito além de
simples casualidades.
Se a evolução biológica é comprovadamente aceita, a
espiritual não foge dos mesmos princípios. Também essa demonstra que o ser
humano já teve seu momento de aspereza sentimental e que hoje procura aliar da
melhor forma o racional com o sentimental.
O não reconhecimento de uma paternidade pode até ser resolvido
com o auxílio paliativo da justiça.
Porém, para um pai comprometido, o não reconhecimento filial
pode representar a pior derrota diante de tantas vitórias.
A sociedade é dinâmica em suas relações, procurando reparar equívocos
passados e atender anseios atuais. Entre esses anseios está a Alienação
Parental que visa assegurar a figura do progenitor em detrimento de possíveis
desgastes provenientes de uma desequilibrada relação entre casais que não
assumem as suas próprias culpas numa falida relação e que usam seus tutelados
num processo de mútua agressão.
Obrigado meu filho adotivo por me dar a oportunidade de lhe
proporcionar um futuro diferente e, sinceramente, que seja muito melhor para
você quanto pra mim.
Obrigado meu filho biológico por me conceder a chance de espelhar
minhas virtudes e erros, permitindo-nos ajustar nossas idiossincrasias.
Obrigado meu enteado pelas diferenças gritantes que nos
tornam parceiros e colaboradores nessa caminhada existencial.
Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor
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