segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Filhos



O que é ser pai?

Seria apenas a contribuição genética com um lote de vinte e três cromossomos?

Pouco provável.

Mesmo que o exame do material genético comprove seu vínculo hereditário, isso também é insuficiente.

A paternidade vai muito mais além dos alelos comuns e muito aquém daquilo que o descendente merece ter.

O legítimo pai é aquele que é reconhecido como tal, pois assume sua condição de responsável em ser a paralaxe de caráter de seu descendente. Uma paternidade baseada apenas em fatores bioquímicos não é privilégio humano. Qualquer ser vivo é capaz de tal façanha.

Porém, a condição humana nos torna muito mais comprometida por nossos atos.

Perceber que suas lições deram fruto, mesmo que o reconhecimento não seja diretamente proporcional, já é uma comprovação de que o êxito foi atingido. A partir de certo ponto, o ato de seu tutelado passa a ser de total responsabilidade do mesmo.

Mas existe a paternidade tardia e adotiva. Responder por alguém que traz uma bagagem cultural e genética distinta da sua é um verdadeiro exercício de tolerância, amor e de ego. Talvez essa seja a grande prova da paternidade. Imprimir no neófito seus valores, respeito e a conivência que os torna semelhantes, é uma árdua tarefa. Os resultados só o tempo vai poder demonstrar. Gratidão ou insubordinação ficam a cargo da própria natureza humana.

Não se trata de uma consideração simplória e fatalista. Trata-se de um discernimento que os vínculos entre as pessoas vão muito além de simples casualidades.

Se a evolução biológica é comprovadamente aceita, a espiritual não foge dos mesmos princípios. Também essa demonstra que o ser humano já teve seu momento de aspereza sentimental e que hoje procura aliar da melhor forma o racional com o sentimental.

O não reconhecimento de uma paternidade pode até ser resolvido com o auxílio paliativo da justiça.

Porém, para um pai comprometido, o não reconhecimento filial pode representar a pior derrota diante de tantas vitórias.

A sociedade é dinâmica em suas relações, procurando reparar equívocos passados e atender anseios atuais. Entre esses anseios está a Alienação Parental que visa assegurar a figura do progenitor em detrimento de possíveis desgastes provenientes de uma desequilibrada relação entre casais que não assumem as suas próprias culpas numa falida relação e que usam seus tutelados num processo de mútua agressão.

Obrigado meu filho adotivo por me dar a oportunidade de lhe proporcionar um futuro diferente e, sinceramente, que seja muito melhor para você quanto pra mim.

Obrigado meu filho biológico por me conceder a chance de espelhar minhas virtudes e erros, permitindo-nos ajustar nossas idiossincrasias.

Obrigado meu enteado pelas diferenças gritantes que nos tornam parceiros e colaboradores nessa caminhada existencial.

Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor

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