quarta-feira, 18 de julho de 2012

Vinho - Bebida dos deuses.


Poucas são as substancias que guardam, além de suas propriedades organolépticas, uma forte bagagem histórica, filosófica e cultural como o soberano vinho.

Sua mística envolvente vai desde sua origem botânica até os versos inspirados dos poetas apaixonados pela vida e por esse supremo néctar.


A planta que dá seu fruto é testemunha de sua própria nobreza.


De uma condição de erva trepadeira, desenvolveu mecanismos para atingir as alturas através de suas gavinhas e de seus tropismos em direção ao sol. 

Não satisfeita em rastejar, o vegetal tratou de se agarrar em substratos diversos para ganhar altura para melhor processar suas moléculas de carboidrato e de etanol, tal como Caetano Veloso em seus versos destacou o ofício de toda planta em assimilar a luz do sol para traduzir em produto orgânico o resultado da reação de fotossíntese.


Então, ao degustar uma taça de vinho, sorvemos os esforços empregados pelos três agentes participes determinantes na obtenção de tal líquido emblemático. 

Primeiro, o esforço da própria planta em sintetizar o glicídio que caracteriza o seu sumo, resistir às intempéries a ação de pragas e predadores.

Segundo, a discreta , mas fundamental , participação do levedo que na fermentação possibilita o teor etílico da bebida. 

Terceiro, o esforço humano no cuidado em se obter um produto final de qualidade, atendendo aos mais requintados paladares.


Apesar de o processo ter sido acidentalmente verificado, a intervenção do homem desde o cuidado e seleção das cepas de plantas e fungos e, até o mecanismo de produção do vinho, fez com que a técnica fosse dominada e controlada com o objetivo de atingir os melhores atributos da bebida em cada garrafa.


Num misto de satisfação e inspiração, o grande Galileu Gallilei, disparou: “O vinho é a alegria engarrafada.”


Rogério Francisco Vieira.
Biólogo e Professor.

sábado, 7 de julho de 2012

Pela Justiça Social


Quando se trata de política, pelo menos uma coisa passa a ser a máxima dos discursos, independente da ideologia praticada: a “Justiça Social”. Até mesmo os governos absolutistas, fundamentalista e ditatoriais, sustentam um discurso de que a administração deve ser comandada com braço forte a fim de garantir aos seus tutelados o atendimento às suas necessidades e, portanto, cada qual recebendo o que lhe é “justo”. 
            
Porém, só é justo aquilo que se traduz em verdade e que está acima de qualquer dúvida, expressando uma condição irrepreensível quanto ao seu valor. Esses dois elementos – justiça e verdade – corroboram para instalação da mais perseguida sensação idealizada pelo ser humano: a liberdade. Essa tríade formada pela justiça, pela verdade e pela liberdade seria a grande responsável pela construção do modelo ideal para o convívio harmônico de todos os indivíduos de um núcleo social. 

Acontece que o substrato fértil para esse modelo, representado pela verdade, é relativizada em sua prática pelos interesses dos homens o que acaba distorcendo a sua verdadeira essência. Esse artifício serve para ajustar a real intenção de cada um pois, o que é verdade para um, passa a ser erro, ou no mínimo um equívoco, para outro. 

Assim, a análise de uma sociedade é feita sob a ótica de uma realidade e não de uma verdade. Tal verdade só poderia ser obtida com o auxílio dos outros dois elementos dessa tríade formada pelos adjetivos sublimes ora citados, coisa muito longe de ser alcançada, ainda. Nossa sociedade está muito aquém de ser considerada a ideal. 

Nessa pluralidade de discernimentos e embalados pelos fundamentos democráticos, busca-se incessantemente a instalação dessa tão sonhada “justiça social”. Longe de se querer que todos tenham a mesma opinião, gostem da mesma cor ou que tenham o mesmo paladar. O grande sinergismo está na capacidade de se reconhecer e se respeitar as diferenças, sejam elas filosóficas, religiosas ou ideológicas. Como ser “da” justiça social se ela ainda não existe? 

Ao se rotular algo como sendo disso ou daquilo, fazemos referência algo que já existe, é ponto pacífico. Veja o exemplo: tal artigo é “da” constituição; a estrela faz parte “da” constelação; o pinheiro-do-paraná é típico “da” floresta de araucárias; etc. 

Quando se trata de um movimento político imbuído de nobres valores para atender os anseios populares, torna-se mais apropriado a terminologia “pela” em substituição ao termo “da”, numa alusão explícita daquilo que se tem por objetivo conquistar. Vejamos as campanhas: “movimento pelas diretas”; “movimento pela liberdade religiosa”; “passeata pela liberdade de imprensa”; etc. 

Sendo assim, uma legenda política deveria carregar em seu nome a verdadeira intenção na busca da construção de uma sociedade muito mais equilibrada, madura e evoluída. Por isso sua correta denominação de PARTIDO PELA JUSTIÇA SOCIAL, pois se ela já existisse não haveria tantos conflitos, tantas guerras e tantas desigualdades.

Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Filantropia


                        Viver numa sociedade onde ocorre a divisão de trabalho entre seus membros não é um fato exclusivo entre os seres humanos. Algumas espécies de insetos, como as abelhas por exemplo, praticam harmonicamente uma natural hierarquia funcional, influenciada por uma pré-disposição genética. Numa colmeia, zangões com um patrimônio gênico reduzido diferenciam-se das operárias e das rainhas, tanto em tamanho quanto em sua participação sistemática na sociedade melífera.

                        O fato mais determinante que nos diferencia dentre os demais personagens da  diversidade faunística do planeta – além da capacidade racional acentuada – é a sensação de compadecimento que podemos ter uns pelos outros. Dessa forma, movidos  por um espírito fraterno, somos levados às mais diversas ações para atender aos mais necessitados, àqueles que ainda, infelizmente, figuram negativamente as estatísticas sociais ou ambientais.

                        Segundo os registros históricos, o termo filantropia é atribuído a Flávio Cláudio Juliano, um imperador romano com breve mandato de 20 meses, iniciado no ano de 361 dessa Era Cristã, encerrando-se precocemente com sua morte.

                        Juliano foi severamente combatido pela Igreja Romana pelo fato de dar valor ao paganismo, reconhecendo-o como uma forma de religiosidade. Sua atitude teve classificação herética por parte das autoridades religiosas, passando a ser considerado um apóstata, pois renuncia sua condição de cristão, ao reconhecer tais manifestações populares com todo seu escopo religioso tido como pagão, desconsiderados pela hegemonia católica daquela época.

                        Assim, o surgimento da expressão filantropia aparece como uma forma alternativa no lugar da tão pregada “caridade”, sedimentada nos meios do catolicismo daquele tempo, reiterada por campanhas fraternas nos dias de hoje. Ainda nesse sentido, movimentos espiritualistas modernos chegam a sugerir que “sem caridade não há salvação”, numa alusão explícita de que todo ato humano está sujeito a uma aprovação divina, numa perspectiva de se conquistar as graças da salvação.

                        Saindo da seara religiosa, a filantropia figura como o mais puro amor à humanidade, seja realizada por iniciativa individual, como também por uma ação coletiva e organizada em clubes de serviços, intervenções governamentais, movimentos de instituições privadas ou simplesmente por comoção de grupos formados para  sanar necessidades emergenciais.

                        Ademais, o filantropo não fica restrito apenas em auxiliar o seu próximo, ao indivíduo de sua própria espécie. Sua ação inclui o socorro aos animais abandonados que não contam com a sorte da assistência de um responsável; aos animais silvestres, na garantida de uma ambiente que possibilite sua perpetuação e as plantas que, exploradas de forma impiedosa, veem-se na eminência da extinção, agravando incisivamente o aspecto ambiental do planeta.

                        Por fim, a filantropia é tida como a prática incondicional para o atendimento das mais variadas necessidades que podem atingir direta ou indiretamente o ser humano, num exercício efetivo do humanismo na busca da construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
 
Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor