Poucas são as substancias que
guardam, além de suas propriedades organolépticas, uma forte bagagem histórica,
filosófica e cultural como o soberano vinho.
Sua mística envolvente vai desde
sua origem botânica até os versos inspirados dos poetas apaixonados pela vida e
por esse supremo néctar.
A planta que dá seu fruto é
testemunha de sua própria nobreza.
De uma condição de erva trepadeira,
desenvolveu mecanismos para atingir as alturas através de suas gavinhas e de
seus tropismos em direção ao sol.
Não satisfeita em rastejar, o vegetal tratou
de se agarrar em substratos diversos para ganhar altura para melhor processar
suas moléculas de carboidrato e de etanol, tal como Caetano Veloso em seus
versos destacou o ofício de toda planta em assimilar a luz do sol para traduzir
em produto orgânico o resultado da reação de fotossíntese.
Então, ao degustar uma taça de vinho,
sorvemos os esforços empregados pelos três agentes participes determinantes na
obtenção de tal líquido emblemático.
Primeiro, o esforço da própria planta em
sintetizar o glicídio que caracteriza o seu sumo, resistir às intempéries a
ação de pragas e predadores.
Segundo, a discreta , mas fundamental , participação
do levedo que na fermentação possibilita o teor etílico da bebida.
Terceiro, o
esforço humano no cuidado em se obter um produto final de qualidade, atendendo
aos mais requintados paladares.
Apesar de o processo ter sido
acidentalmente verificado, a intervenção do homem desde o cuidado e seleção das
cepas de plantas e fungos e, até o mecanismo de produção do vinho, fez com que
a técnica fosse dominada e controlada com o objetivo de atingir os melhores atributos
da bebida em cada garrafa.
Num misto de satisfação e inspiração,
o grande Galileu Gallilei, disparou: “O vinho é a alegria engarrafada.”
Rogério Francisco Vieira.
Biólogo e Professor.