quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Homem Livre


Seja qual for o tipo de compromisso que você assuma, isso não pode lhe tirar a liberdade. Primeiramente porque você teve o livre arbítrio de assumir ou não uma situação.

Somos seres sociáveis, necessitamos de cuidado no início de nosso desenvolvimento biológico e psicológico. Porém, isso não nos torna escravo, submisso ou isento de vontade própria.

O discernimento saudável nos torna capazes de saber reconhecer, agradecer e de sermos generosos com as pessoas que nos cercam.

A subserviência não combina com a capacidade intelectual da qual, potencialmente, somos dotados. Nossa existência deve ser marcada
pela busca de uma evolução espiritual, pois aí reside o grande desafio em se almejar as qualidades de uma socieade mais justa e fraterna. Afinal, não existimos apenas pelo fato de existir. Não somos protagonistas passivos do fenômeno chamado vida.

Somos as criaturas mais complexas dessa biodiversidade terrestre, capazes de fazer com que os registros de nossa história sejam
transmitidos de geração em geração. Pode até nos causar estranheza o modo de como nossos antepassados viviam. Uma tecnologia limitada, uma maneira bruta de se relacionar com a natureza sem a preocupação ecológica dos dias atuais, assim como nossos descendentes irão nos taxar de atrasados sob suas óticas.

A busca da liberdade é algo que nos remete a eternidade. Mas o que é ser livre? Talvez a melhor resposta foi dada pelo filosofo grego Aristóteles:

"Liberdade é a capacidade que o todo homem tem de fazer somente o bem".

Parece bastante razoável, pois a prática do bem teria grandes chances de escancarar as portas aos buscadores do "mundo" livre. 

Porém, essa percepção também não é a mais exata e completa devido ao fato de que o "bem" e o "mal" serem relativos, na concepção de culturas diferentes.

Durkheim, eminente sociólogo, teve a liberdade suficiente para interpretar a capacidade de coerção do ser humano. Percebe-se que
mais que existir, o homem tem a necessidade de uma aceitação por parte de um grupo e, aí deixa de ter uma personalidade individual
para assumir as regras de seu agregado.

Ainda assim, apesar das normas e doutrinas sociais, a pessoa pode traçar sua existência com uma marca própria, pautada pela sua
maneira de conceber o mundo no qual está inserida.

Mesmo no matrimônio pode-se respirar o ar da liberdade. O casamento é um contrato entre duas pessoas afins que, trazendo bagagens culturais diferentes, optam em somar forças complementares para uma feliz convivência. Ser livre, neste caso,
não é sair e chegar na hora que bem entender. A liberdade consiste na confiança acordada entre as partes, pois um não é dono do outro. É a segurança de que se pode fazer tudo, sem que se possa gerar prejuízos para a outra parte, caso contrário a própria estrutura estabelecida perderia seu legítimo objetivo, transformando-se numa prisão de sentimentos e anseios.

O ser humano é livre por natureza e é isto que lhe confere a coragem de mudar o mundo na busca de uma existência muito mais
aprazível.

Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor

    

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Poder do Vegetal


Essa canção eu fiz após uma maravilhosa e divina experiência com o Vegetal (União do Vegetal / Santo Daime).

Ao violão, meu irmão Rogelson Vieira.


Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor
                                        


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mitocôndrias Polonesas


E as aparências continuam enganando...

Somos vítimas de nossos próprios sentidos. Os olhos contemplam e o cérebro, numa fração de segundos, decreta que se reluziu é ouro e que se tem fumaça, há fogo. É o óbvio! Não é preciso ser gênio para tirar tais conclusões. O senso comum a tudo satisfaz, está longe das críticas e da rebeldia de pensamento. Faz com que tudo pareça normal, natural e previsível.

É o conjunto que garante o produto final das coisas, porém é o detalhe que faz a diferença. É aquele que muda a apoteose, que atinge o objetivo, que confere a essência e a qualidade. Num bolo, quem é o mais importante o fermento ou a farinha? Só com a farinha, não haveria crescimento; só com fermento, não daria a liga da massa. Assim, cada detalhe, cada elemento é fundamental para o bom êxito das coisas. O bolo de chocolate é gostoso porque é de chocolate e não por conter fermento, mas ninguém duvida da importância deste último. Após o resultado de uma partida de futebol, onde o time do coração fez cinco gols no temido adversário e não tomou nenhum, a torcida inebriada exalta a artilharia. Já depois do jogo, luzes e microfones convergem para o artilheiro, dando destaque ao herói da conquista, valorizando seu grande feito. 

Mas, ele não esteve em campo sozinho, seus companheiros tiveram suas cotas de participação na vitória e, principalmente, o solitário goleiro que impediu um possível revés no saldo final da partida.

Somos milhões de brasileiros dispersos numa verdadeira miscelânea étnica. Nisseis, cafuzos, mulatos ... identificados pelos seus fenótipos, sobressaindo-se de sua sutil bagagem gênica. O olho puxado, o cabelo pixaim, a concentração de melanina na pele, o formato do crânio, a distribuição de pêlos pelo corpo, tudo serve como elemento de rotulagem. E para completar a confusão, o sobrenome do indivíduo tenta anunciar sua linhagem, sua origem, que muitas vezes parece zombar com o bom senso de um padrão populacional.

A genética básica nos ensina que os 46 cromossomos [(22+X) + (22+Y)] são os responsáveis pela combinação bioquímica a partir do fenômeno da fecundação. Porém, o gameta feminino contrubui com um "algo a mais". O zigoto formado a partir do encontro das células sexuais, conserva a herança mitocondrial materna. A mitocôndria é o organóide relacionado com os processos energéticos da célula, assimilando o gás oxigênio para a respiração celular. Além disso, é uma organela de origem polêmica, já que possui a capacidade de autoduplicação pelo fato de conservar seu próprio material genético.

Assim, a disposição para o trabalho - seja ele físico ou mental - pode estar diretamente associado a bagagem mitocondrial materna. 

Se o pai é diretamente responsável pela geração de um menino ou de uma menina, da mãe estes podem herdar a afinidade de seu modus operandi.

No meu caso, o Vieira acusa uma raiz lusitana e provavelmente judia convertida em novo-cristão por conta da perseguição religiosa da Europa na época de meus antepassados. Apesar disso, nutro uma simpatia natural pelas coisas relacionadas a região geográfica da águia branca coroada, tal como o gosto pela cultura e culinária do povo polonês. A curiosidade por Leminski, o gosto pelo pierogi e pela vodca e, a admiração pela figura do corajoso polonês heliocentrista Nicolau Copérnico, parecem reforçar essa minha tese. Até a camiseta do "Solidariedade" de Lech Walesa cheguei a usar em apoio a abertura política polaca, numa demonstração da liberdade de expressão, sem nenhum vínculo partidário.

Curitiba possui a terceira maior população de descendentes de poloneses do mundo. O grande evento que marcou a memória dessas pessoas ocorreu em junho de 1980 com a visita de Karol Józef Wojtyła (papa João Paulo II, o João de Deus) e lá estava eu, levado por minha mãe, numa concentração de milhares de admiradores no Centro Cívico da capital dos paranaenses. Foi um momento de grande emoção para os católicos fiéis em recepção de seu grande líder.

Por essas e outras, minhas mitocôndrias não escondem esse meu lado polaco de ser.
Pokój i Miłość.

Rogério Francisco Vieira
Biólogo e Professor (com mitocôndrias Woitowski e Kaminski)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O "Senhor" Tempo.


Tempo, tempo, tempo... O “senhor” da razão.

A maturação agrega qualidades diferenciais ao produto e traz ao homem conhecimento e discernimento. Os processos naturais ocorrem independentemente da cronologia humana, apesar da ação antropogênica poder catalisar o desequilíbrio ambiental.

Vendo que os eventos na natureza são periódicos e que permitiam serem mensurados, o ser humano tratou de sistematizar a sua existência fixando pontos de referências na história da humanidade. 

Calendários maias, julianos, gregorianos entre outros, passaram a registrar o tempo a partir de um dado astronômico, como por exemplo um solstício ou um equinócio.

A bula papal que oficializou o calendário gregoriano no século XVI, extirpou dez dias do calendário juliano – até então predominante no continente europeu – com o objetivo de adaptá-lo a contagem de tempo, baseando-se na rotação da Terra em seu próprio eixo e na translação da Terra/Lua em torno do sol, inclusive com a criação do ano bissexto com o intuito de “zerar” os desvios cronológicos verificados durante o decorrer dos períodos.
Independente do analógico ou do digital, o relógio biológico dá o compasso para a biodiversidade do planeta, proporcionando a floração, a germinação, a migração, o sono e o momento de parir ou eclodir.

Entre as pessoas, o “time” é distinto. Enquanto uns demoram para processar uma situação, outros tomam decisões abruptas, muitas vezes precipitadas. Mas o que é certo? Fazer a hora acontecer ou esperar acontecer a hora? Muito relativo.

E quando se trata do tempo associado ao sentimento, a razão escorre entre os dedos e a paixão rasga o coração. Assim, num raro momento de inspiração o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença fala sobre a Solidão, um sentimento de acomete mesmo aqueles que vivem cercado de pessoas:

“A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.”

Rogério Francisco Vieira
Biólogo e professor
Curitiba, dezembro 2012