Instrução
para se tocar violão
Que se faça o som!
Que ecoe pelo ar os timbres harmônicos daquele que
transita entre o erudito e o popular; entre a rigidez acadêmica e o ingênuo
coração adolescente no afã de concentrar milhões de admiradores ou para apenas
ver brilhar os olhos de sua musa inspiradora.
Porém, fazer o som pelo som, não é garantia de objetivo
atingido e de satisfação proporcionada a si e a outrem.
O instrumento
desafinado causa desconfortos aos menos exigentes tímpanos, traduzindo-se em
insuportáveis ruídos inaudíveis, detonando uma verdadeira impotência
sentimental.
A tensão correta das cordas do nobre pinho é condição sine qua non para se alcançar a harmonia
desejada e traduzi-la na mais pura essência sonora capaz de superar os
sustenidos do passado e assegurar os prodigiosos bemóis de um futuro
regozijante.
Atendidos os fundamentos acústicos, cabe ao executor o
pleno êxito de seu tento artístico. Mesmo que não tenha o vigor de um Paco de
Lucia, do gingado sincrético de um Baden Powell ou que se satisfaça,
apenas, com os mínimos acordes de uma
canção que não exija grandes proezas de acordes, garantindo os refrões à uma
platéia com raso gosto musical.
Rogério
Francisco Vieira
(Esse texto faz parte de um exercício da Oficina Literária dirigida pelo escritor Antonio Carlos Viana, baseado no estilo do contista Julio Cortázar).