segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Frequências


Se somos um instrumento, seja lá de que natureza, que estejamos afinados com nossos pares.

O “samba de uma nota só” de Tom Jobim é raro dentre as necessidade dos arranjos sonoros que as composições musicais requerem.

O solo instrumental é bonito e demonstra a destreza do tocador.

Mas a harmonia de uma orquestra em atividade nos serve de exemplo e de inspiração.

O grande perigo da execução solitária está na falta da comunhão dos diferentes timbres, independente da impressionante capacidade de seu executor.

Já a produção orquestrada é inebriante.
Sopros, cordas e percussões numa mescla agradável e harmônica.

Cada qual no momento exato de execução, sob a batuta daquele que sabe quando entrar e sair de cada um dos colaboradores musicais, numa prova que disciplina e ordem são essenciais ao êxito coletivo.

O desrespeito a esse trato comum traz desafinação e desarmonia à obra, causando desconforto aos mais apurados tímpanos.

Em metáfora, se nossa sociedade não é harmônica, é porque nem todos conseguiram afinar seus próprios instrumentos e, consequentemente, o resultado incomoda aos dotados de uma sensibilidade social pura.

Essa percepção não quer dize que todos tenham que ser iguais, pois as diferenças é que dão riqueza do todo.

Um bombardino aparece diferente de um violino que se faz diferente de um oboé e assim por diante.

Assim somos nós, instrumentos humanos coletivos, prontos – ou ainda aperfeiçoando a técnica vital – na comunhão da freqüência ideal do existir.

O Grande Maestro é generoso e paciente para aqueles que se dispõem a aprender e a ensinar a Magna Obra do bem comum, mesmo que isso pareça obra de vaidade pessoal.

Enquanto isso, o aprendiz deve se aproximar dos que buscam os tons harmônicos e evitar o ruído agressivo dos que ainda não se atentaram para a beleza de compartilhar de uma freqüência comum, pois a maturidade e o tempo são diferentes para cada um.

Rogério Francisco Vieira

Biólogo e Professor

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